Júlio Santos – Uma das startups pioneiras no desenvolvimento de soluções de inteligência artificial no país, a Nama.ai registra alguns números significativos. Com um portfólio de 23 clientes (90% deles grandes companhias), a empresa em quase cinco anos de mercado registra mais de 170 milhões de mensagens trocadas nos projetos implantados.
“Isso é o equivalente a quase 35 anos de conversas processadas dentro de casa”, destaca Rodrigo Scotti, CEO da Nama.ai, que vive um momento estratégico de busca de novas parcerias e desenvolvimento de negócios. Em um segmento ainda emergente por aqui, de 2017 para 2018 a empresa viu o faturamento triplicar.
Falar em números, claro, é sempre bom, sobretudo, quando eles são positivos, mas Scotti prefere não citar metas. “Nossa meta é muito mais qualitativa do que quantitativa. A preferência é ter cases melhores e mais robustos, com empresas que sejam muito mais parceiras”, explica.
Neste entrevista exclusiva ao portal NewVoice.ai, o CEO da Nama.ai faz um cenário do desenvolvimento da tecnologia de inteligência artificial no país, sobretudo na criação de bots (assistentes pessoais inteligentes) que buscam facilitar a relação entre o usuário final e as corporações, bem como das barreiras que impedem o maior crescimento desse mercado. Confira!
NewVoice.ai – A Nama é uma das startpus pioneiras no país no desenvolvimento de soluções de inteligência artificial. Como a empresa vem se posicionando neste mercado?
Rodrigo Scotti – A Nama vem trabalhando, praticamente, com a mesma visão de quando foi criada, em 2014, como plataforma para criar vários tipos de ferramentas para auxiliar os diversos times dentro de uma empresa com o objetivo de simplificar a relação existente entre usuário final (interno ou externo) e a corporação, com machine learning e processamento de linguagem natural. É um trabalho para empoderar a relação humano/máquina, fazendo com que isso aconteça de uma forma simples.
NewVoice.ai – Inteligência artificial ainda é algo muito recente por aqui. Hoje, como está a mentalidade das empresas para a aceitação dessa tecnologia?
Rodrigo Scotti – Há pouco anos, a gente não tinha assistentes pessoais, chatbots e tudo o mais. Agora já pode-se ver os ganhos correlatos que eles trazem. Em nível global, o Brasil não está muito atrás. Existem iniciativas como a da Google para incentivar o uso do Google Assistente e startups trabalhando com esse tipo de tecnologia. O brasileiro é naturalmente um povo que gosta, usa e contrata tecnologia. Agora, em geral, o mercado ainda está entendendo como ela funciona.
NewVoice – A Nama está ainda em que estágio?
Rodrigo Scotti – A gente vem entendendo há muito tempo como se desenvolve o melhor ferramental, como se faz a melhor proposta de valor, como operacionalizar as vendas e, depois, como escalar as vendas. Essa jornada vem de 2014 até agora. A Nama, hoje, está muito madura em vários desses pontos.
NewVoice.ai – E a aceitação da tecnologia pelas empresas?
Rodrigo Scotti – Está acontecendo no mercado uma aceitação cada vez maior, mas ainda existe uma mentalidade em transição. A maior parte das empresas grandes, nosso público-alvo, tem áreas de atendimento ao consumidor bem antigas, de URA, de call center. Agora, a gente está chegando e dando uma solução de inteligência artificial. Não é sustentável ter um ou dois andares com pessoas para fazer o atendimento, se existe uma tecnologia e processos para isso. Ou seja, é possível ter algo focado em um time menor e mais preocupado com engenharia e treinamento de máquina para fazer o negócio acontecer. Existe muito trabalho a ser feito, pois estamos começando o processo de transformação digital. Ele não tem volta.
NewVoice.ai – Que tipo de empresa já está preocupada em ouvir e entender a tecnologia?
Rodrigo Scotti – Já existe alguns padrões em venda e pós-venda para captura de lead, isso é bem recorrente; internamente em algumas áreas de maior demanda; e setor de atendimento que possua um número de chamadas extremamente alto.
NewVoice.ai – O custo seria a principal barreira de implementação de um bot baseado em IA nas empresas?
Rodrigo Scotti – Não digo que seja uma barreira. O que acaba sendo uma barreira são fatores como desconhecimento e desinformação sobre a solução e o seu potencial. Este não é um processo simples, achando que é só fazer um bot e pronto. Há uma generalização muito errada que acaba gerando experiências frustantes. Agora já estamos caminhando para um período mais maduro, em que as pessoas já sabem o que querem.
A Nama usa a inteligência humana e a inteligência artificial para melhorar a experiência do consumidor e das empresas. Como isso acontece?
Rodrigo Scotti – Basicamente, a gente consegue ter os assistentes pessoais que fazem toda a intermediação entre o usuário final e a empresa de forma automatizada, que é a inteligência artificial. Mas existe um lado de atendimento humano, quando isso não é suficiente, também amparado pela inteligência artificial. A nossa visão é aplicar a inteligência artificial em todas as pontas da nossa plataforma.
NewVoice.ai – Quais seriam os grandes diferenciais da plataforma Nama?
Rodrigo Scotti – A Nama é uma das poucas empresas que detém 100% da tecnologia, não dependendo de provedores externos para linguagem natural e machine learning. Tem, por exemplo, um framework proprietário que facilita o treinamento de máquina e muitos domínios linguísticos criados que ajudam no desenvolvimento dos robôs. Isso dá mais controle sobre decisões e sobre o modelo de negócio, com um processo de implementação muito coeso, o que ajuda na experiência do cliente. Então, não é só fazer um bot, colocar no ar e tchau! A gente faz o acompanhamento para ver o que dá resultado.
NewVoice.ai – A solução da Nama tem integração com outras plataformas?
Rodrigo Scotti – A integração, com certeza, é um dos grandes diferenciais da plataforma, um sistema proprietário voltado para grandes empresas. Isso facilita o processo de implementação da tecnologia no cliente.
NewVoice.ai – A solução de bot de voz está na mira da empresa?
Rodrigo Scotti – A plataforma já tem integração com o Google Assistente, que é um assistente pessoal de voz. Vemos a integração por voz com muito bons olhos, inclusive quando a empresa nasceu, em 2014, tinha um assistente baseado em voz, e depois migrou para texto. Voz é um modelo bem interessante e algo que queremos trabalhar no tempo certo. Está nos planos, mas não é prioridade.