Por Martina Basile*
O surgimento de startups nos mais diversos setores mudou completamente as dinâmicas de negócios e, consequentemente, o cenário competitivo das organizações. Empresas fortes e consolidadas foram surpreendidas por players que mudaram completamente o conjunto de regras do mercado, conquistando, a passos largos, uma grande parcela desse público, além de um poder de escala impulsionado pela tecnologia.
Este novo cenário, altamente competitivo e dinâmico, fez com que a introdução à mudança passasse a ser cada vez mais valorizada e perseguida, como forma de se manter vivo no mercado. A busca incessante por uma vantagem competitiva tornou esse termo um dos mais relevantes da atualidade. Entretanto, grande parte das companhias enfrenta dificuldade quando tenta implementar inovação, principalmente aquelas com uma longa e tradicional história.
Cultura de inovação reúne os valores, as normas e atitudes que estimulam o pensamento não ortodoxo e, consequentemente, o desenvolvimento de inovações dentro da companhia. Como os processos de renovação ocorrem transversalmente, a cultura se refere a padrões e valores compartilhados entre todos os participantes do processo.
Uma atitude inovativa positiva cria incentivos para os colaboradores e leva a um aumento na força inovadora. Uma mudança exige mais do que o comprometimento da alta gestão e, normalmente, ocorre primeiramente em nível de sistema, para que isso se torne competência da empresa, e evolua para atitudes dos colaboradores – até que se torne uma crença e valor da companhia.
Veja quais são os sete principais desafios das companhias que querem se tornar mais inovadoras e se deparam com diversos obstáculos em torno da questão cultural que, de modo geral, já está enraizada em seus colaboradores:
Conhecer o consumidor e colocá-lo no centro das decisões
Empresas orientadas a clientes conseguem oferecer produtos e serviços que atendem suas necessidades de forma mais assertiva, gerando um vínculo mais forte. Pesquisas recorrentes com clientes ajudam a entender suas dores e necessidades, desenvolver empatia e tê-lo no centro de suas decisões. Esse entendimento é essencial, pois permite acompanhar e compreender verdadeiramente as mudanças na demanda, ao mesmo tempo que busca identificar tendências para projetar o futuro.
Tratar a inovação como um desafio de todos
Muitas organizações, com o intuito de serem mais inovadoras, criam uma área específica ou aumentam os investimentos para o desenvolvimento de novos produtos. Contudo, as mais inovadoras são aquelas que a tem no seu DNA e que consideram, portanto, que a inovação pode vir de qualquer pessoa da organização e não apenas de um grupo pré-determinado.
Ter um processo de inovação estruturado
Criar uma estrutura inovativa, orientada por um estratégia bem definida e objetivos claros, permite que todos tenham conhecimento do status do processo e os critérios necessários para que um projeto siga adiante. Quando a gestão não tem claro o caminho que pretende seguir ou não deixa evidente aos envolvidos, as pessoas não entendem as regras do jogo, não vêem propósito e o engajamento acaba sendo menor. Entender as temáticas de inovação que está olhando é fundamental para que as propostas dos colaboradores estejam na mesma direção.
Criar um ambiente interno propício para a criatividade
Oferecer um espaço físico aberto, agradável e visualmente estimulante é um bom início para favorecer uma visão inovadora, mas sozinho não é o suficiente. Para que um ambiente de trabalho seja inovador, é preciso que haja espaço para experimentar, brincar e para momentos de troca. A carga de trabalho também é um ponto de atenção. Colaboradores que são consumidos pelas atividades do dia a dia não tem tempo nem cabeça para se dedicar a pensar em ideias novas. Além disso, é preciso que hajam pessoas abertas para o diferente, pois é natural que ideias muito disruptivas acabem gerando resistência e, por isso, ter sponsors é importante para que as ideias não sejam rejeitadas antes mesmo de terem sido colocadas à prova.
Estimular a colaboração interna e externa
A colaboração é um item chave para que a inovação aconteça. A cooperação entre os setores é essencial, pois cada área tem sua expertise e um olhar único sobre um mesmo problema, e, por isso, quando existe troca, essas visões se complementam e um espaço para a criação de novas formas de pensar ou fazer alguma atividade é potencializado. A perspectiva de quem está do lado de fora da organização também pode ser valiosa, e com olhar menos enviesado, trazendo insights na reinvenção de uma indústria. Parcerias estratégicas entre startups e empresas já consolidadas têm sido cada vez mais frequentes, já que a complementaridade entre elas pode trazer resultados muito positivos para ambas as partes.
Aprender a lidar com o fracasso como parte do processo
A incerteza é inerente ao processo e, por isso, as que desejam incentivar iniciativas inovadoras precisam estar abertas para lidar com o fracasso de uma forma natural, principalmente quando se trata de uma disrupção. A cultura do erro e do aprendizado contínuo nem sempre é bem vista dentro das companhias, gerando medo ao risco, por isso é fundamental que se adotem medidas de incentivo ao erro. Além disso, as falhas que ocorrem ao longo do processo impactam diretamente no prazo, e, consequentemente, no investimento do mesmo. Muitas não se preparam para um investimento de longo prazo e acabam interrompendo um projeto antecipadamente, gerando resultados negativos para o processo e para a motivação dos envolvidos.
Incentivar a equipe a inovar
O estímulo à inovação deve ser constante e exige um comprometimento da alta gestão. Para que se sintam empoderados, colaboradores precisam se sentir apoiados por suas lideranças quando precisam assumir riscos ou se ausentar de suas atividades por estarem envolvidos em projetos. Além disso, programas de premiação ou tempo reservado para dedicação dos para colaboradores que propuseram uma ideia interessante também podem ser fatores de motivação.
Conhecer esses desafios e entender a cultura da organização que quer fazer a mudança é o primeiro passo para conseguir enfrentá-los. Essa transição para uma mudança de mindset requer consistência e persistência, pois, como ocorre em todo tipo de mudança, haverá resistência. Quanto maior o número de pessoas envolvidas nessa operação, mais difícil de conseguir o alinhamento ou o consenso de todos, por isso, é importante que a gestão tenha convicção do movimento e faça uma trabalho cuidadoso de gestão da mudança, para que todos os envolvidos se sintam respeitados e acolhidos dentro do processo.
Martina Basile é líder da área de Digital Design e Inovação na ilegra