Por Paulo Eduardo Brugugnoli*
Estamos cada vez mais acostumados a nos deparar e muitas vezes nos surpreender com a aplicação de algoritmos inteligentes em nosso dia a dia – seja para nos ajudar a escolher nosso próximo filme ou livro através de algoritmos de recomendação ou nas interações com os assistentes virtuais, como Siri, Google, Alexa e Cortana.
No mundo corporativo também nos deparamos cada vez mais com cenários onde robôs e algoritmos inteligentes são utilizados com maior sucesso. As soluções passaram a ser capazes de antecipar a necessidade de manutenção de um equipamento, verificar a qualidade de um produto com mínima intervenção humana, automatizar atividades manuais ou ainda auxiliar na seleção do profissional mais adequado para uma posição na empresa. Estes exemplos estão cada vez mais comuns e encabeçam uma lista cada vez mais longa de cenários.
Mas você já parou para pensar sobre o uso da IA em cenários menos conhecidos do público geral, mas que já são realidade e que prometem impacto profundo na forma como trabalhamos ou até mesmo sobre a necessidade de nosso trabalho?
O primeiro exemplo que dou é dos sistemas auto gerenciáveis. As empresas despendem uma quantia significativa de seus orçamentos na administração, monitoramento e operação de suas plataformas de tecnologias. Em um recente evento em São Francisco (EUA), empresas mostraram casos de uso de algoritmos inteligentes capazes de auto gerenciar uma base de dados, reduzindo em até 30% o custo de operação e em até 90% o esforço de seus profissionais nas atividades de manutenção e administração.
No mesmo evento foi anunciado um sistema operacional autogerenciado que, assim como sua contraparte de gestão de bancos de dados, promete uma mudança significativa sobre a forma como as empresas terão que se preocupar com as atividades de administração e operação de sua infraestrutura de tecnologia.
Soluções autogerenciadas mostram que a inteligência artificial abandonou há tempos os laboratórios e centros de pesquisa para fazer parte do dia a dia corporativo. Essas aplicações deixam de ser uma promessa e se tornam uma realidade, reduzindo a necessidade de profissionais para execução de atividades de baixo valor agregado, abrindo a chance para que eles se desenvolvam em outras atividades dentro da organização.
Outro exemplo são as soluções para aumento de produtividade. Imagine um desenvolvedor de sistemas que, utilizando um ambiente de desenvolvimento integrado (IDE) capaz de sugerir seus próximos comandos ou linhas de código, consegue reduzir o volume de teclas pressionadas em até 47%. Pois bem, isto já é possível com algoritmos inteligentes integrados aos IDEs, que aumentam substancialmente a velocidade de desenvolvimento de software.
Ainda quando o assunto é desenvolvimento de software, novos algoritmos inteligentes estão em franco processo de desenvolvimento e prometem irromper esta atividade transformando, de forma automática, as definições de negócio e de interface gráfica em código sem nenhuma interação humana. Uma vez mais caberá aos atuais profissionais buscarem se reinventar para conseguirem manter seu valor em novas atividades, como o desenho de arquiteturas de tecnologia.
E nos aspectos das atividades administrativas de uma empresa, sejam de compras, vendas ou financeiras, estas também estão ganhando um forte e louvável suporte dos algoritmos inteligentes de IA. Uma fornecedora de ERP de classe mundial, por exemplo, anunciou a IA integrada a vários processos de negócio de seu software de gestão pode facilitar a vida de seus usuários simplificando e suportando os humanos na execução de suas responsabilidades.
Em finanças, por exemplo, a IA incluída no ERP é capaz de auxiliar o usuário na conciliação dos lançamentos contábeis, eliminando trabalhos manuais, erros e reduzindo substancialmente o tempo desta atividade. Nas vendas, a IA analisa as características do potencial cliente, volume de estoque da empresa, posição de caixa e sugere o nível mais adequado de desconto para que um vendedor consiga fechar um novo negócio, maximizando o giro do estoque e o retorno da empresa em relação ao capital investido. E para as compras, vemos a IA trabalhando como um advisor do comprador, auxiliando-o a escolher a oferta mais adequada entre as propostas de seus fornecedores, equalizando prazos, condições de pagamento e qualidade.
Em resumo, a inteligência artificial passa a suportar as atividades dos humanos ajudando-os a analisar seus negócios com uma visão muito mais ampla e completa de parâmetros de negócio antes de se tomar uma decisão, até então usualmente enviesada, o que gera muito valor ao negócio e simplifica o trabalho dos humanos. Ao mesmo tempo, a utilização da IA altera substancialmente a relevância dos profissionais tradicionais com impactos socioeconômicos que ainda não temos como medi-los.
A pergunta é: quantos empregos novos serão criados versus quando empregos desaparecerão? É certo, entretanto, que para que os profissionais sigam relevantes, eles terão que constantemente se atualizar e se reinventar.
*Paulo Eduardo Brugugnoli é CTO global do gA