Por Calos Eduardo Sedeh*
A indústria de telecomunicações tem sido protagonista na transformação digital, que se encontra em andamento, pois sua infraestrutura é um caminho necessário para que a economia digital aconteça. E desde o dia 1º de maio de 1995, quando pela primeira uma conexão à internet aconteceu no Brasil, o mercado não parou de evoluir. Desde então, mundialmente, vimos nascer a indústria “ponto com” e sua bolha estourar – entre 1999 e 2000. Após isso, o setor inteiro foi encarado com ceticismo, até o começo dos anos 2010, quando a partir daí, a economia passou a ser profundamente transformada pelas empresas de tecnologia.
Várias indústrias foram impactadas, com destaque para mobilidade urbana, educação, viagens, serviços financeiros, entre outros setores que, por meio de empresas de tecnologia, essencialmente, ligadas à infraestrutura de telecomunicações, vêm experimentando novos modelos de negócios, aproximando-se dos clientes e tornando as relações mais amigáveis. Ao mesmo tempo vemos que, paradoxalmente, a tecnologia vem mudando áreas de atendimento e backoffice para as relações digitais, com algoritmos potentes que transformam hardwares em dispositivos capazes de entender, interpretar e propor decisões, como machine learning e inteligência artificial.
No que se refere ao acesso à internet, atualmente, na América Latina, existem perto de 2 bilhões de dispositivos conectados, o que significa que 70% da população está online. O tráfego de dados vem crescendo 21% ao ano desde 2017 e continuará na mesma taxa até 2022. A velocidade média de acesso deve subir de 11.7 para 28.1 Mbps nesse intervalo. E tudo indica que o aumento da demanda por dados não esteja em um ciclo de acomodação.
A demanda por conteúdo de streaming e VOD (vídeo sob demanda) vem crescendo rápida e constantemente. Também crescem as aplicações de câmeras IP, realidade aumentada e virtual, games, agricultura de precisão, entre outras aplicações. Além disso, é importante projetar aos efeitos do 5G, ainda desconhecidos.
Mas, um aspecto será mais importante, no que se refere à velocidade de conexão. Reduzir a latência. Isso, porque o que importa é o quão rápido se consegue proporcionar ao cliente o acesso ao conteúdo desejado, e não mais a quantidade de banda ofertada.
A tendência é que as operadoras invistam cada vez mais em fornecer um serviço que proporcione ao seu cliente, um acesso de maior velocidade a conteúdos específicos, como clouds e ambientes privados (CDNs, Peering Points, Direct Peering). Latência será um atributo muito importante mais do que a largura de banda (erroneamente chamado de velocidade de conexão).
Além disso, as tecnologias disruptivas como o 5G, que deve ter seu leilão de frequências (ou pelo menos uma definição do seu modelo) em 2020, demandarão investimentos para atualização de rede e novas células de transmissão (small cells/ micro cells), movimentando o mercado de infraestrutura de telecomunicações.
Outras tendências do mercado de Telecom são aplicações de alta complexidade que demandam de redes carrier grade e de altíssima disponibilidade. Isso criará a necessidade ainda maior de investimentos em segurança das informações com big data, analytics e IoT. Para tanto, as operadoras passarão a ter ofertas mais sofisticadas de produtos.
Em 2020, ofertar somente voz e dados deixará as empresas defasadas. Disponibilizar soluções para os clientes é uma demanda do mercado no próximo ano e, cada vez mais, as operadoras que não investirem para acompanhar essa tendência, ficarão marginalizadas, não atingindo a escala necessária e sofrendo com a queda de margem constante.
O próximo ano reserva grandes avanços tecnológicos, que demandarão investimento e inovação no mercado de Telecom.
*Carlos Eduardo Sedeh é CEO da Megatelecom e e diretor executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp)